Eu estava em Mumbai, caminhando para a estacao de trem, para comprar minha passagem para o trem noturno para Goa, quando tive um encontro sincronico com um amigo Bollywoodiano, que estava voltando da estacao e tinha acabado de encontrar vaga no trem para Aurangabad para dai algumas horas. Naquele mesmo instante, eu tive certeza absoluta de que eu nao encontraria vaga no trem para Goa. Dito e feito, entao, sem hesitar, mudei meus planos e fomos juntos para Aurangabad.
Me organizei de forma a chegar com meia hora de antecedencia na estacao e qual nao foi minha surpresa quando, chegando `a plataforma, tive tempo apenas de checar se o trem era mesmo o meu e subir correndo, porque ele ja estava partindo… Nao entendi nada, um trem saindo com meia hora de antecedencia??? Acabei descobrindo que meu relogio estava atrasado (e so entao entendi os cabelos em pe do gerente do hotel com o meu atraso no check out…) Continuei sem entender nada por varios dias, porque meu relogio nao atrasa… Enfim, depois de muito tempo, me dei conta de que a diferenca de fuso horario na India nao e’ de 8h em relacao ao Brasil, e sim, de 8h e meia! Eu nunca tinha ouvido falar em fuso horario partido… Coisas da India!
Bom, essa foi minha primeira viagem de trem na India. Eram so 6h de viagem e meu bilhete era para um vagao normal, sem ar condicionado (mas com ventiladores), ou seja, o vagao da grande massa. Eu era a unica estrangeira do vagao e meu lugar era ao lado de uma indiana com um filho de uns 10 anos de idade. Ela falando em hindi (ou qualquer outra das centenas de linguas locais indianas…) e eu em ingles, conseguimos descobrir que estavamos indo para a mesma cidade.
Passado um certo tempo, eles comecaram a me oferecer comida e quando as pessoas ao redor perceberam que eles estavam finalmente interagindo comigo, virou uma festa. Eles queriam saber meu nome, me ofereciam cha, comida, compraram doce para mim. Na verdade, me senti o proprio bichinho de zoologico, sendo observada e alimentada por um monte de gente. Comedia!
Na manha seguinte, acordamos antes do sol raiar, para evitarmos as horas mais quentes do dia nas cavernas. No onibus, no caminho para Ellora, mais uma cena divertida, que depois se mostrou ser completamente normal na India. Entrou um grupo de adolescentes, todas mulheres, e se sentaram ao meu lado e atras de mim. A que estava atras, imediatamente me cutucou e perguntou de onde eu era, meu nome, minha idade, se eu era casada, minha profissao e se eu estava viajando com um grupo. Sao as perguntas basicas, que quase todos fazem. Muitas vezes, eles ainda querem saber a nossa religiao e qual e’ o nosso salario! Se perguntarmos isso para eles tambem, nao tem problema, eles respondem numa boa.
Bom, falar que eu sou do Brasil, 99% das vezes provoca uma reacao de alegria e eles sempre elogiam o pais! E’ o sonho de muitos deles conhecer o Brasil. A minha idade os choca duplamente: 1o, porque quase ninguem acredita que eu nao tenha 24-25 anos! O bom e’ que eu vou fazendo anos e a crenca popular continua estagnada nos 24-25!!! Adoro isso! 2o, nao ser casada e ter filhos com uma idade dessa, e’ absolutamente inconcebivel… Mas e’ tanto, que agora ja mudei de tatica. Quando perguntam, falo que tenho 24 e tudo fica um pouco mais simples (mas nem tanto, porque com 24 eu ainda assim ja quase passei da hora de casar…)! Outra resposta que os choca e’ eu estar viajando sozinha. Com a total falta de independencia da mulher na India, eles nao conseguem entender isso mesmo.
Bom, os monasterios, capelas e templos das cavernas de Ellora foram esculpidos nas rochas, ao longo de 5 seculos, por monges budistas, hindus e jainistas. Assim, existe um conjunto de cavernas para cada estilo. Sao todas lindas, mas as mais ricamente adornadas sao as hindus, destacando-se, disparado, o templo Kailasa, dedicado a Shiva. Foi uma das coisas mais impressionantes que eu ja vi. Ele e’ enorme e absolutamente trabalhado, uma coisa maravilhosa! Nao da vontade de ir embora…
La, conheci o Vijay, um indiano muito sangue bom, puro coracao, que me mostrou umas outras cavernas menos visitadas, onde os locais vao pela manha meditar e praticar yoga, um lugar de muita paz. Que privilegio poder comecar o dia dessa forma!
Chegando de volta a Aurangabad, embarquei imediatamente num onibus para Goa, iniciando minha primeira aventura nos onibus da India, mas isso e’ assunto para outro post…
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Um comentário:
Oi Dri, quando conheci Machu Pichu fiquei impressionado com a determinação daquele povo para construir uma cidade. A riqueza de detalhes destes templos é difícil até de imaginar.
Ponto para o Brasil, podemos ficar solteiros, viajar sozinhos, não ter filhos e não sofrermos "muita" discriminação, tá valendo...
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